segunda-feira, dezembro 26, 2011

Fim


O fim é algo deveras misterioso. Esperado, temido e completamente fascinante. É no fim que as coisas se mostram estupendas, que os segredos se revelam, que acontece o que não estávamos (ou até estávamos) esperando. Um filme só acaba com a conclusão do enredo, muitas vezes uma conclusão inesperada, surpreendente, com um fundo moral ou então quando finalmente acontece tudo aquilo que os espectadores estavam aguardando desde o início. Em uma música, no finalzinho podem acontecer várias coisas, desde um fade-out discreto para um fim charmoso até uma mudança completa de ritmo, pegando o ouvinte de surpresa, ou até o fim de uma música pode emendar no começo de outra... Nada se sabe sobre o fim, só se sabe que ele é interessante, até acontecer. Depois torna-se motivo de discussão, descaso, riso, reflexão ou até mesmo, tédio. Já ouvi muitas vezes falar sobre o fim. O fim da vida. O fim do mundo. E sempre olhei esse assunto com curiosidade, pois é o que o ser humano procura. Coisas que ele não entende e nem nunca irá entender, mas que gosta de confabular sobre, gosta de pensar como é a realidade daquilo que ele só experimentará uma vez.
É engraçado como é rápido. Uma vida se passa na frente dos nossos olhos feito um jato, mas o fim da mesma se demora. Já disse um cara lá do passado que ainda influencia muita gente hoje e cujo nome é implícito em tudo: "Daquele dia e hora, ninguém sabe nada". Portanto, nunca poderemos afirmar quando virá. Sim, esta passagem muita gente pode constatar de pés juntos que trata-se sobre o Apocalipse, o Fim do Mundo e tudo isso, mas não me deixo persuadir tão fácil assim. Este Fim do Mundo coletivo provavemente só existe na imaginação das pessoas. Eu acredito em algo bem mais simples e abstrato, como a vida o é. Tudo isto que se fala em alta escala sobre o Fim do Mundo, para meu entendimento, nada mais é do que o anúncio do fim do mundo de cada um, ou seja, a vida de cada um, o fim individual e contínuo. Ora, nunca sabemos que dia ou hora iremos terminar nosso caminho, e tudo o que é falado pelos quatro cantos do mundo podem confirmar isto que digo agora. Todos sabem que os escritos religiosos são todos (TODOS) muito simbólicos e figurativos, sendo que menos que 10% do que está escrito literalmente ocorreu na história. Creio que ainda há muito a contar. Por exemplo, a passagem citada acima pode ser um aviso, um cuidado tomado pelo locutor para avisar sobre suicídios, pessoas que queriam decidir o horário do próprio fim. Não chega nem perto de uma frase decisiva, que desdenha a capacidade humana de decidir sobre si próprio, mas sim um conselho para que isto não ocorra, para que a vida não seja desperdiçada antes da hora. Mesmo após isto, muitas pessoas não se atentaram, e só se prenderam ao aviso do tal Fim do Mundo. Tanto que chegaram falsos profetas, como disse aquele cara que viriam, e decidiram chutar uma data para o Fim do Mundo, mas que esta estaria baseada em conceitos científico-teológicos. Nostradamus, sacerdotes de religiões diversas, Da Vinci, Newton e até Einstein já tentaram adivinhar a tão esperada e temida data, em vão. O fim do mundo deles aconteceu antes do que eles previram.
Acho que muitos se preocupam com algo tão insignificante que, depois de acabado, só vai virar motivo de discussão, descaso, riso, reflexão... Ou tédio. Não se sabe, não é? O que nos resta é viver novas experiências a cada dia, para que nossa passagem por aqui valha a pena. Quem sabe não teremos outra lá pra frente? Só sei que o fim jamais será o fim, até ele chegar, e quando ele chegar, chegará feito um ladrão, de madrugada, quando estivermos dormindo, não poderemos fazer nada. Mas por enquanto, o fim está apenas nas nossas cabeças, e vamos deixar ele lá escondidinho, guardado dentro da cachola... Quem sabe a gente não o esquece? Quem sabe, se assim for, o próprio fim não tenha um fim? E se o fim só existir em nós? Nunca se sabe.

quarta-feira, novembro 16, 2011

Escuridão


Quando o Sol se põe
Minha vida se expõe
Fico vulnerável ao luar
Minha alma começa a se dobrar

Olho para o infinito
Não há lugar mais bonito
Este sim é meu lar
É aonde quero estar

Sigo minha sina com coragem
É muito mais que uma simples imagem
Quem me guia é o coração
Querendo eu ou não

E meu rumo finito se torna
Com a brisa suave e morna
Até que a luz brilhe novamente
Para então iluminar minha mente

sexta-feira, agosto 26, 2011

You know I'm such a fool for you


"Oh, I thought the world of you.
I thought nothing could go wrong,
But I was wrong. I was wrong.
If you, if you could get by, trying not to lie,
Things wouldn't be so confused and I wouldn't feel so used,
But you always really knew, I just wanna be with you."
­                                                                 The Cranberries

Não quero mais fingir, não quero mais esconder, quero que saibas o que está aqui, perto de mim, enquanto você está aí, tão alheia a meu desejo, ou por enquanto, tão distante, a ponto de fazer-me olhar para as nuvens e lembrar de teu rosto, ouvir o vento vindo de encontro à minha orelha e lembrar das músicas que costumávamos cantar juntos. Nós era uma loucura, um caminho sem começo e que minha vontade impede que tenha fim. Nós era algo que existia, dentro de cada um, explodindo de vivacidade e ternura. Nós era verdade, um fato que eu e você não podíamos nem queríamos negar, mesmo quando às vezes um parecia desapontar ao outro, mas dentro de poucos segundos, tudo estava resolvido, pois éramos unânimes na decisão de amar. Ainda ouço teu suspiro, aquela música que ficou presa a meu passado e que me traz tantas lembranças do teu cheiro, da tua pele e da tua voz, que insistia em assoprar no meu ouvido palavras suaves de esperança. O ar saído de tua boca me causava arrepios, e meu corpo relaxava de prazer só de sentir esse arrepio tão digno de segurança. Teu abraço, o mais forte, o mais aconchegante, similar a um ninho, um porto seguro para meus medos, sempre conseguia me fazer dormir em paz. Quando me abraçava, sentia que só eu e você existíamos nesse mundo, não precisava de palavra alguma, apenas o calor de teu corpo contra o meu, me aquecendo e me protegendo. Podíamos ficar eternamente assim, mas sua suavidade foi-se, esquivou-se das minhas mãos e esvaziou-se no vácuo da saudade. Teu corpo foi levado para longe do meu e tuas mãos já não mais acariciam meus cabelos. Tuas palavras são agora apenas sussurros, resquícios de tua presença, mas ainda guardo viva em minha mente o calor do teu abraço e a cor dos teus olhos, que fixavam dentro dos meus um objetivo maior, que ao brilhar demonstravam o teu sentimento absoluto, que ultrapassava as barreiras existentes e que nada, nada podia desviar. Éramos um do outro e ambos pertenciam ao momento de estar juntos.

Mas ainda carrego esperanças de um dia, nem que seja apenas um dia, poder te segurar junto a mim, sem falar nada, só te contemplando, te abraçando e te tendo em minha companhia. Para nossa música começar a tocar em nossas cabeças uma vez mais, para o vento gelado do inverno vir bater em nossos rostos e você me abraçar mais forte para se esquentar. Para fazer este momento durar pra sempre, não é necessário muito. Basta que nos entreguemos um ao outro.

terça-feira, junho 07, 2011

Knocking On Heaven's Door


O que seria do paraíso senão um mundo inteiro de respostas visadas ao bem próprio e ao "idealizador" de hipóteses. De nada valeria mais a pena se tudo o que vivi fosse um sonho. Sonhos são bons, contudo são o passe-livre ao pesadelo. Se existe sonhos, vale acreditar de que eles são a nossa chave ao que tememos, ao terror do "e se eu ... "

Eu queria os meus sonhos de volta ! Que fossem levados um dia, mas que voltassem imediatamente pra mim. São eles que me alimentam, são eles que me dão forças para continuar a acreditar no que, pro meu mundo, é essencial.

Bati na porta do paraíso uma vez. Dela, um anjo apareceu e me convidou a entrar e fiquei observando em como era lindo aquele lugar. Era perfeitamente igual aos meus sonhos mas com um detalhe incomum: não havia aquele anjo. Ele fugia de mim, não me deixava ver seu rosto. Apenas tocou em uma de minhas mãos para me levar até o topo mais alto daquela montanha para apreciar o abismo enorme que eu havia criado. Suas mãos eram geladas e suaves.

- "Espera, deixe-me te ver ?"
- "Me desculpa, mas não posso permitir que me veja"
- "Poxa, e porque ?"

Ele nada disse, apenas continuou me levando para algum lugar. Pressentia que reconhecia aquele lugar, assemelhava-se à uma praia pequena, com árvores de médio porte, a água do rio quase que cristalina e o sol cegando minha visão.

- "Esqueci que estamos no verão" pensei
- "Calma, logo o sol se põe e sua estação preferida vai voltar" o anjo me respondeu

Olhei em sua direção aturdida. Como ele poderia ter lido meus pensamentos ... e como ele sabia da minha estação preferida ? Bom, não sei como nem porque, mas havia algo nele que me fazia sentir renovada, bem comigo mesma e com vontade de viver. A cada passo eu tentava, sem muito êxito, ver seu rosto, mas ele percebia a cada tentativa e puxava seu capuz, evitando com que eu conseguisse vê-lo.

- "Droga !"
- "Calma, ainda não é a hora certa ... você vai saber, tenho certeza. Mas preciso que ande mais rápido ! Vai perder a melhor parte do dia ! Quer isso ?"
- "Ahm, eu nem sei aonde estou indo ... e muito menos quem é !"
- "Discordo ... você me conhece há mais tempo do que imagina."
- "Então me deixe te ver !" parei de andar e com muito pesar, soltei suas mãos, que estavam afetuosamente, 'presas' às minhas e pedi internamente para que ele atendesse ao meu pedido.
- "Mas que menina teimosa ! Preciso que veja o que quero te mostrar, por favor. Só assim vai saber com quem está falando"

Meu maior desejo naquele momento era que ele pegasse minha mão novamente e me levasse pra onde quer que fosse, mas que estivesse comigo. Como sua presença me fazia tão bem !

- "Ok, você venceu."

Muito rapidamente, vi um sorriso ali, perdido naquele capuz branco.

De repente, tudo ficou preto. Minha cabeça girava, girava e girava. Ele sumiu ! Meu anjo sumiu ! Olhei pros lados e só o que eu vi foi a mobília do meu quarto ... até eu lembrar que tinha acabado de acordar de um sonho.

quinta-feira, maio 26, 2011

The Scientist

"Nobody said it was easy
Oh it's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No-one ever said that would be this hard
Oh take me back to the start!"
­                                            Coldplay
Singular e simplesmente bela música da banda britânica de poprock Coldplay faz-nos pensar: será que o mundo é realmente racional, ou nossas escolhas pela racionalidade apenas fazem com que a vida e as outras escolhas sejam cada vez mais difíceis, tão difíceis, que a única solução é recomeçar tudo de novo?

O ser humano tem problemas. Problemas mentais, realmente. Nossa mente é limitada, obstinada e completamente, indefinidamente apaixonada pela complexidade. Para nós, para que algo seja satisfatório, não pode ser simples, temos que ir até o fundo do poço para descobrir o segredo. Mas acontece que ficamos tempo demais debaixo do poço, e afogamos, e voltamos boiando para a superfície. Às vezes, temos apenas que nos perguntar: o que aconteceria se tentássemos descobrir o segredo direto da superfície, sem ter que complicar o processo? A resposta pode ser simplista, pessoal, e até contraditória, mas, pelo menos para mim, parece a verdade: seríamos mais felizes.

Nós somos seres megalomaníacos. Desejamos sempre alguma explicação grandiosa ou que tome proporções que assustem e/ou encantem o público ouvinte. E geralmente, de algum modo, conseguimos. Mas a um alto custo (não estou falando de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos) e em um tempo relativamente grande, comparado ao resultado obtido através da simplicidade. Imagine se o ser humano fosse simples desde o começo. Poderíamos estar bem mais evoluídos neste momento...

Aqui vai mais uma de minhas teorias, e espero que meus leitores não se assustem com ela, porque não é a primeira nem será a última.

A mente humana é limitada. Dizem que só conseguimos usar, no máximo, 2% da capacidade cerebral. Conseguimos usar isso no nosso dia-a-dia, mas há certos momentos em que nosso cérebro decide utilizar sua capacidade quase total, o que ocorre, geralmente, durante o período R.E.M. do sono (o sono R.E.M. caracteriza-se pela dessincronização dos potenciais, episódios de movimentos oculares rápidos e atonia muscular. Além disso, este estágio é denominado também de sono dos sonhos, uma vez que é o período no qual estes ocorrem) ou então no período pré-R.E.M.
Todos temos crenças (crença vem de acreditar) e valores. Há pessoas que acreditam no sobrenatural, e há pessoas que até já testemunharam o sobrenatural, em situações em que é impossível provar que algo estranho não estava presente. Aonde mais presenciamos fatos surreais, mais comumente? Nos sonhos. E é lá que o cérebro está usando sua capacidade máxima para nos proporcionar visões como um mundo só nosso, monstros, magia, poderes, etc. O cérebro geralmente usa sua capacidade total no sono R.E.M., mas nada impede que ela seja usada em momentos conscientes também. Às vezes, temos lapsos de inconsciência profunda (vulgo briza), que podem chegar a um ponto tão extremo, que o cérebro pode interpretar como se o seu dono estivesse dormindo, e é aí que ele começa a se soltar. É como um adolescente que, enquanto os pais estão em casa, se comporta, mas quando eles saem para viajar, chama os amigos para uma festa de arromba. Durante esse processo, o cérebro também solta uma quantidade voraz de hormônios, que podem explicar a tensão muscular, a quantidade exorbitante de pensamentos extraordinários que a pessoa tem. Quase como se fosse uma droga. E uma droga potente. E logo depois que passa este súbito momento, não lembra de mais nada, assim como não nos lembramos dos sonhos da fase R.E.M. Voilà! Aí está a explicação não tão sobrenatural para o sobrenaturalismo, espíritos e tantas outras coisas! Os sonhos dominam a mente humana, temos que ter cuidado.

Se tudo fosse tomado como simples e não apelando para as minuciosidades do complexo, talvez os seres humanos conseguiriam compreender melhor o sentido da vida, e de tudo o que está ao nosso redor. Se as pessoas encarassem as coisas que inicialmente acham complexas com um pouco de simplicidade, elas ficariam mais fáceis, simplesmente pela displicência e subestimação, que muitas vezes são necessárias. Este é o princípio de "Divisão e Conquista", que trata de repartir um problema grande em problemas menores para ser de mais fácil resolução. Ah, se todos os humanos fizessem isso...

sexta-feira, maio 13, 2011

Personal Jesus

"Feeling unknown and you're all alone
Flesh and bone by the telephone
Lift up the receiver, I'll make you a believer
Take second best, put me to the test
Things on your chest, you need to confess
I will deliver, you know I'm a forgiver

Reach out and touch faith"
                                            Depeche Mode
Desde quando Jesus é para apenas um grupo de pessoas? Meus estudos analíticos na história do mundo revelam que todos tem o seu Jesus particular, independentemente da religião. É bem verdade que os estudos não chegaram a ser uma tese, nem mesmo um trabalho de pesquisa em campo, estão apenas na minha cabeça e em alguns dos posts que escrevo por aqui. O título da postagem é o nome de uma música que gosto muito da banda de synthpop Depeche Mode, e achei apropriado para esta postagem.
Ao observar outras religiões, percebemos que muitas são bem diferentes daquela que nós estamos acostumados, algumas até com politeísmo (vários Deuses). Mas paremos para pensar um pouco... será que são mesmo diferentes as religiões ou então apenas os jeitos de contar as histórias são diferentes? Usando este preceito, comecei a investigar e correlacionar fatos da Bíblia Católica com os ensinamentos propostos em outras religiões e descobri algo fascinante, se não polêmico.
O fato é que realmente, a diferença entre muitas das religiões está apenas no modo que a história foi contada. Por questões étnicas, éticas ou de observação da natureza, algumas modificações foram feitas, para demonstrar os atos e histórias religiosas de certo modo que sustentasse os argumentos da classe dominante de cada sociedade. Mas se for analisar bem a fundo, percebemos que é tudo a mesma coisa. Tomar um exemplo a criação do Universo. A Bíblia Católica diz que Deus criou tudo o que existe em 7 dias, que antes existia o caos e que fez primeiro a luz, depois os astros, o firmamento, e por aí vai... Vamos pegar um exemplo da religião politeísta grega. O começo de tudo também era o Caos, e então Gaia se criou do caos, junto com Tártaro, Eros, Érebo e Nix, e deu a luz a Urano. Com Urano, teve 12 filhos (astros), entre eles Cronos (Saturno) e logo após gerou os os Ciclopes e os Hecatônquiros. Após isto, Urano, temendo o poder dos filhos, trancafiou-os de volta ao ventre de Gaia, mas Cronos resolveu libertá-los e, como vingança, castrou o próprio pai, separando a terra do firmamento. Do sangue de Urano que caiu sobre a terra, brotaram os Gigantes e Afrodite, e a terra se fertilizou. Após tudo isso, nasceu Zeus, filho de Cronos e Réia, que viria a ser o governador de todo o Universo... Notaram as semelhanças? As diferenças constam apenas na étnica dos povos.
Agora vamos falar sobre o personagem principal deste post. Jesus não existe apenas nas religiões Católicas ou Judaica. Encontramos Jesus também no personagem de Maomé, na fé muçulmana, que todos acreditam ser o profeta de Alá e que realizou inúmeros sinais e propagou a religião muçulmana a todo o Oriente Médio, o que a fez abrir as portas para o mundo inteiro. Nas religiões orientais, encontramos Buda, o ser iluminado, que abdicou do trono real e dos bens materiais para viver uma vida pura, ensinando às pessoas como obter a paz interior e alcançar o Nirvana (que, em uma analogia, seria o Paraíso). Voltando para a Grécia, encontramos o filho de Zeus com uma humana, Hércules, semi-deus forte e destemido que fazia proezas em favor dos humanos e que teve que executar 12 trabalhos de altíssima complexidade, dignos de um Deus (se não estou enganado, Jesus fez exatos 12 milagres que estão descritos na Bíblia Católica).
Com isso em mente, podemos refletir sobre o seguinte: será que existem diferenças entre as religiões, a não ser as diferenças étnicas entre os povos? Tudo está interligado, não podemos negar. É só saber analisar a fundo tudo o que está escrito nas páginas da História que, ao contrário do que muitos pensam, é fascinante! Podemos perceber muitas coisas que até então estavam ocultas aos nossos olhos se compararmos o que a História ensina para nós e o que nos contam desde que somos crianças.

segunda-feira, abril 11, 2011

O que eu sempre quis


Você sempre quis ser medico? Modelo? Ou quem sabe astronauta?
Eu sempre quis amar.
Ponto.
Eu cresci assistindo à pessoas vivendo amores vãos e concentrando-me em toda a intensidade que eu sonhava para a minha vida. Guardei o meu melhor trancafiado em algum lugar no meu peito. Tão bem guardado que cheguei a pensar que o tivesse perdido, extraviado-o em algum cais. Existiram sim – algumas – pessoas que provocaram e que mereceram conhecer o que havia de tão conservado, mas, não sei porque, não as dei tempo para isso.
Não costumava procurar, apenas me deixava ser encontrada. Salvo durante experiências falhas, era eu me encantar para estar aberta à uma nova tentativa. Tá que me encantar não é lá muito fácil né, eu sei…
Eu queria um amor que me tomasse o ar num só golpe, que me fizesse enrubescer pelo simples ato de fitá-lo, eu queria um amor que me aquecesse o coração, que provocasse uma imensa vontade de gritar para que o resto do mundo me chamasse de louca. Pouco importava. Que bagunçasse minha casa, minha vida, meus cabelos. Alguém que me fizesse mudar o rumo, ou simplesmente perdê-lo. E, no fim do dia, queria um abraço que fosse capaz de acalmar toda essa insanidade que corria pelas minhas veias. Eu só queria amar.
Precisava de alguém que tomasse conta de mim e dos mais puros sentimentos que eu já tivera. Queria um amor desesperadamente estável.
E eu sempre soube que conseguiria.
Jenny Emilly Bachinshi

sexta-feira, abril 08, 2011

Conversas de ônibus II

"Para falar, basta abrir a boca. Para ouvir, é necessário abrir o coração."

- É sempre assim! Cada vez que subo, aumenta um pouco... É impossível confiar no transporte público hoje em dia!
E constantemente confiava seu discurso a uma dúzia de pessoas já estressadas do fatigante dia de segunda, dia em que Senhor Alberto usualmente pegava o 370A para ir ao trabalho, pois sua filha, quem geralmente o levava, era professora e justamente às segundas estava no trabalho aquela hora. Senhor Alberto era vigia noturno de uma galeria de lojas no centro da cidade há 25 anos. Seus mal vividos cinquenta e tantos anos já não aguentavam o peso de uma viagem de sua casa, localizada na periferia, até o seu local de trabalho, onde teria que varar até pelo menos meia noite de pé e mais o percurso para casa, sem dormir. Apesar disso, seu trabalho não exigia muito. Tinha apenas que ficar rodeando a galeria, procurando por algum movimento irregular de invasão. A galeria, que nem de dia era muito visitada por consumidores, nunca teve boletim de roubo. Obviamente não graças a Sr. Alberto, que realmente não dava a mínima para alguém assaltar as lojas.
Sentou-se bem perto da saída, como costumava fazer, para evitar qualquer desconforto de ter que passar no meio da multidão para desembarcar. Era viúvo, sua mulher teve pré-eclâmpsia, então sua filha nasceu prematura, mas sua mulher não conseguiu ser salva. Após este ocorrido, chorou durante 11 dias, e depois disso, nunca mais sorriu. Passou a reclamar dia e noite, de tudo o que via, sentia ou percebia. Quando alcançou os 50 anos, sua mente já não estava no melhor estado, e começava a reclamar até de coisas inexistentes. Acostumou-se muito facilmente a viver miseravelmente, não que possuísse poucos recursos financeiros. Nem muitos. Vivia bem, mas tudo era questão de reclamações, xingamentos e lamúrias.
Ao entrar na Avenida Dom João VI, um denso nevoeiro baixou, e o motorista do ônibus reduziu vertiginosamente a velocidade. Literalmente, não dava pra ver nem os carros ao lado do transporte, e Sr. Alberto deixou escapar um sonoro "Só me faltava esta agora". De repente, o ônibus para. Agora não só Sr. Alberto, como alguns outros passageiros também gritaram frases do tipo "que aconteceu?", "porque paramos?", "anda logo, motorista!", mas ele disse que o ônibus não podia mais continuar, tinha quebrado. Abriu as portas de saída e a neblina pareceu água que enxurrou dentro do ônibus. Sr. Alberto lutou para achar os degraus, já murmurando palavras de baixo calão. Quando chegou ao último degrau, aconteceram várias coisas, muito rapidamente. Um vento forte e frio bateu ao rosto dele, que era o primeiro a conseguir a alcançar a saída, e tremeu. Não era o frio que lhe atingira, era sim um tremor involuntário, mas imperceptível para os outros passageiros. Em seguida, não via nem neblina, nem ônibus, nem nada. Era uma luz branca que invadiu sua fronte, como um flash de câmera fotográfica. Com essa inesperada intervenção, subiu um degrau pra trás, e parece que os outros passageiros também tinham visto a luz, pois não sentiu ninguém atrás dele. O ônibus começou a tremer, mas era porque ele tinha voltado a funcionar, e quando os passageiros puderam abrir os olhos depois da momentânea cegueira, a neblina havia sumido. Todos ficaram estagnados, surpresos pela cena, mas logo voltaram para os seus lugares, pois o motorista deu a partida, sem mais uma palavra. O  mais surpreso era Sr. Alberto, que fez uma metamorfose do rosto: a expressão rabugenta e fechada deu lugar a uma cara espantada, perturbada e confusa. Era visível que não foi somente a cena que o deixou pasmo, mas era impossível detectar qual a outra fonte de sua perplexidade.
No outro dia, excepcionalmente subiu no 370A, pois sua filha estava passando mal, e tinha ficado junto com o marido. Parecia que Sr. Alberto já havia esquecido da cena do dia anterior, e logo voltou a rabugentar. Disse palavras de extremo egoísmo para a filha e saiu de casa maldizendo a ela, ao marido e a quem mais estivesse pelo caminho. Chegou perto da catraca, pegou o dinheiro e, ao estendê-lo de muita má vontade ao cobrador, uma moeda caiu no chão. Foi a gota d'água para ele começar a reclamar e xingar. Um passageiro que estava dentro do ônibus já se ofereceu para recolher a moeda e entregar a seu dono, mas Sr. Alberto recusou. Abaixou, pegou a moeda e, ao levantar, bateu a cabeça na catraca. O grito que deu não foi de dor, mas de muita raiva. Entregou logo o dinheiro ao cobrador e foi sentar-se. Ao fazê-lo, descobriu que o banco estava solto, e quase tomba para o chão.
- Que quinquilharia este ônibus! Não se pode confiar mesmo no trans...
E, antes de terminar a frase, o ônibus freou bruscamente, jogando Sr. Alberto, que estava de pé e sem segurar em nada, pra frente, fazendo-o bater a boca em um dos postes da frente. Agora ele realmente ficou irritado, e o sangue lhe escorria da boca. Os passageiros ficaram preocupados e se ofereceram para ajudar, mas ele fez todos se afastarem dele, e sentou em um banco isolado. Chegando ao trabalho, vestiu o uniforme e encontrou com seu encarregado, que repetiu-lhe todas as instruções, que ouvia todas as noites.
- Pode deixar... Já estou careca de saber disso, não precisa repetir mais.
- Tudo bem, Alberto, mas preciso zelar pela segurança.
- Que segurança? Ninguém vai entrar aqui!
E vendo a ignorância de Sr. Alberto, o encarregado não disse mais qualquer palavra, e saiu. Frustrado com tudo o que estava acontecendo com ele no dia, suspirou, coçou a cabeça e viu que algo estava errado. Quando voltou com a mão da cabeça, vieram junto com ela diversos tufos de cabelo. Ele achou estranho, mas já estava mesmo na idade de perder cabelos. A esta hora o lugar estava todo vazio. Começou a vagar pela galeria, e percebeu que algo o estava incomodando. Parecia que seus ombros estavam sujos. Deu uns tapinhas para limpá-lo, e percebeu que eram mais fios de cabelo. Agora intrigou-se. Passou a mão pela cabeça e mais fios se soltaram. Mais, mais, cada vez mais. Sr. Alberto estava desesperado. Nunca havia dado sinal algum de calvície, mas agora estava perdendo todos os seus cabelos do nada. Enquanto estava ocupado com os fios que lhe caíam, ouviu um barulho metálico forte. Estacou e logo pegou na lanterna. Virou-se para ver melhor, mas nada se movia. Estava com medo. Nunca tinha ouvido sequer um grilo na galeria. E a lanterna não funcionava. Foi se aproximando cautelosamente da fonte do ruído, mas seus sapatos em contato com o solo, produziam um estalado que o denunciou. Um vulto apareceu na sua frente, e parecia estar com o braço estendido na direção de Sr. Alberto.
- Velho, volte e suma. Você não viu nada.
Não pensou duas vezes. Saiu correndo. Percebeu o leve contorno de um cano de metal apontado em sua direção. Subiu logo no primeiro ônibus que passou pelo ponto, não queria permanecer ali mais nem um minuto. Chegando em casa, soube por meio de um recado que sua filha foi levada para o hospital, porque tivera uma febre altíssima, e o marido estava acompanhando. A despeito da recente invasão, continuou a reclamar "Ah, deve ser só frescura... Ela está com um resfriadinho e fazendo drama...". Segundos após dizer esta frase, o telefone tocou. Era seu genro.
- Senhor Alberto, por favor, você pode vir ao Hospital Santa Mônica? - Disse, com uma voz soluçante.
- Porque? O que aconteceu?
- Por favor, Senhor Alberto, venha para o Hospital...
- Quero saber o que aconteceu! - Já estava nervoso com a enrolação do rapaz.
- A sua filha morreu! - E não conseguiu dizer mais nada, apenas desabou no choro e desligou o telefone.
Sr. Alberto não conseguiu pensar mais em nada. Ficou ali parado com o telefone na mão. Pegou as chaves e saiu. Ele mesmo pegou o carro, o que há anos não fazia e encaminhou para o Hospital. No caminho, também desatou a chorar. Disse a si mesmo "Porque fui tão ignorante com ela? Fui um péssimo pai... Queria ir junto com ela!".
Ao chegar na Avenida Dom João VI, a neblina misteriosa do outro dia desceu novamente. E era noite. O entorno ficou puro breu. A não ser por duas luzes que vinham em sentido contrário. Sr. Alberto então entendeu. A neblina, o vento, o flash.
Acelerou. E as luzes foram se aproximando. Uma última vez reclamou:
- É, não se pode confiar no transporte público hoje em dia!

segunda-feira, abril 04, 2011

Conversas de ônibus I


"A ignorância é tua melhor amiga. Acostuma-te com ela ou sofra as consequências."

E lá estava ele... Sobriamente vestido, com ar imponente, tentando não prestar atenção na iminente lotação do 425, sentido Leste. Subiu alguns pontos após o terminal, portanto, conseguiu sentar-se ao lado da janela, como gostava de fazer. Mas sabia que logo teria que levantar, pois seu ponto de descida era logo após o centro, o lugar onde o ônibus geralmente ficava igual a uma lata de sardinha, então, permanecer sentado era uma má opção. Mas apreciava a paisagem, sem perder a integridade de homem sério. Fazia frio.
Virando logo à Alameda do Oratório, uma moça bem vestida deu sinal. Cabelos ruivos, óculos de arame fino, cachecol xadrez em preto e branco, sobretudo preto, combinando com uma charmosa bota de couro. Aparentava ter entre 20 e 25 anos. Subiu os degraus com delicadeza, cumprimentou o motorista e o cobrador, pareciam ser conhecidos, embora ele nunca a tivesse visto subindo neste ponto. Passou o cartão na catraca e foi. O ônibus estava realmente com pouquíssimas pessoas, em média, umas 8 ou 9, mas ela veio justamente para o ponto onde ele estava sentado. Sentou-se bem atrás dele. Tantos lugares vagos, ela foi escolher justo aquele. Incomodava-lhe a presença de estranhos tão perto assim. Mas ela aparentemente era tão suave, delicada e bela (sim, era extremamente bela) que resolveu deixar o incômodo de lado e apreciar a paisagem.
Ainda estava longe do centro, quando, de repente, ouviu uma doce e tranquila voz ao seu ouvido, vinda de trás:
- Posso sentar-me com o senhor?
Surpreso com a pergunta e com sua fonte, apenas conseguiu pensar em uma palavra:
- Porque?
- Ah, estou com muito frio. Talvez sentando ao teu lado amenize um pouco.
Parou um pouco para pensar. Ninguém pede para sentar-se ao lado de ninguém no ônibus do nada. Mas de algum jeito, aquela voz, aquele perfume suave e talvez aquela simpatia toda o contagiaram. Era um tanto confortável tê-la por perto.
- Tudo bem, por que não?
E sentou-se. Quando encostou suas costas no espaldar do banco, virou graciosamente o rosto na direção dele e desferiu um amplo sorriso, que supriu todas as necessidades que o momento pedia de um simples "obrigada". Ele retribuiu com um sorriso pequeno, tímido. Ele tentou retornar sua atenção para a "interessante" paisagem, mas a moça ficou encarando-o. Mais do que a presença de pessoas estranhas, ele não suportava a ideia de pessoas estranhas o encarando. Ela perguntou:
- Você trabalha com marketing?
Ele achou estranho alguém puxar conversa com ele, justamente com ele, que sempre ficava quieto em seu canto no ônibus... Mas educadamente, respondeu:
- Não, na verdade sou produtor cultural. - Achando estranho de si mesmo a sinceridade e a voluntariedade de contar detalhes de sua vida.
- Ah, que interessante! Então é você quem cuida de arranjar espaços para shows e eventos?
- Sim, além de toda a parte burocrática, segurança e inovação...
E curiosamente, mantiveram a conversa. Ele já não estava prestando atenção na janela suja, e ela estava com o olhar brilhante como o de uma criança que ganha um presente de Natal. Ela estava muito animada para uma manhã fria de Julho. Ela o fez sentir que sua vida era interessante, mesmo para uma garota tão jovem. E, além de seu interesse, seu perfume e sua voz intrigada e delicada o incentivaram a soltar a língua e perder a timidez. Respondeu a tudo o que ela perguntava, e ria junto com ela sobre assuntos inúteis, mas que lhe fizeram a felicidade naquela manhã.
Passado muito tempo de conversa, ela finalmente falou:
- Ah, aqui é meu ponto. Se importa se eu me for?
- Cara senhorita, não te deixarei ir sozinha, descerei junto!
Já havia passado há tempos o ponto do homem, mas ele nem notou e nem se importou quando desceu. Também não havia notado que o ônibus já estava em seu caminho de volta, pela Alameda do Oratório, onde a garota subira.
No dia seguinte, novamente na Alameda, a garota subiu no ônibus e perguntou para o cobrador:
- Aquele senhor com quem estava conversando ontem, onde está?
- Não sei, também achei estranho ele não subir hoje.
Ela passou o cartão e entrou no corredor do ônibus. Viu um rapaz cabisbaixo sentado no fundo do ônibus.
- Posso sentar-me contigo?
E um sorriso se abriu.

quinta-feira, março 31, 2011

Dê-me uma letra!


O que é difícil ao encontrar ares para escrever não é a história em si, nem personagens, nem como ela vai acabar. Isso qualquer criança de 5 anos consegue pensar. Aliás, conseguem melhor que nós, que nos consideramos adultos o suficiente para subjulgarmos as crianças. Conforme o passar do tempo, perdemos a essência, a criatividade, o núcleo que tanto nos fazia felizes. O mais difícil de todo o texto é algo ínfimo, mas que lhe confere todo o sentido.
O ato de escrever é mais que um simples descrever de ideias, pensamentos e conclusões. Há a coesão, há o sentido, há uma inexplicável ligação entre as palavras, que só se consegue quando se está com a mente livre... Livre de qualquer negatividade, livre do verdadeiro sentido, deixando-a solta no espaço, pronta para criar. O mundo que escrevemos é indiscutivelmente diferente do que vivemos, porque é só nosso, sem fatores externos para atrapalhar, muito menos para ajudar. É o próprio autor com seus personagens, que nada mais são além de meras projeções das personalidades escondidas de seu criador. E o criador vira a criatura, e vive dentro dela. E passa a existir a metalinguagem, que é a mais bela de todas as funções da linguagem, pois é o idioma dos sonhos. Você interagindo consigo mesmo, enquanto te crias a partir das memórias que lhe formam. Parece confuso, mas ninguém disse que os sonhos existem para ser entendidos. O paradigma dos sonhos é esse... O paradoxo, a metalinguagem, o impossível que torna-se absolutamente fácil dentro da mente. E é disso que tratamos quando escrevemos. Do nosso íntimo e significante paradoxo que, por não ter sentido algum, confere-nos todo o sentido da existência.
E o que seria da criatividade sem o paradoxo? O que seria do paradoxo sem a criatividade? Ambos andam juntos, e funcionam juntos quando sonhamos e quando escrevemos. Sonhos são independentes. Acontecem sem consentimento e repentinamente, podendo tomar todas as formas possíveis e imagináveis, sem as barreiras cotidianas. Gostamos de sonhar, mas não podemos cotnrolar os sonhos... Até um momento em que eles viram pesadelo e começam a perturbar-lhe. E a melhor parte disso tudo é que a criatividade surge em meio a tempestades e dias ensolarados. É só saber aplica-la. Aliás, recorremos mais à arte quando nosso espírito está incompleto, quando estamos tristes.
Não gosto de escrever. Não é algo que faço 24 horas por dia, nem o que faço em meus momentos livres. Escrever é meu dever, minha vocação, algo que vai além da vontade de expressar uma ideia, algo que vem do interior, do fundo do meu subconsciente. Quando percebo, escrevo mil palavras sem sentido, mas que pra mim, formam o conjunto da concretização dos meus sonhos. Para mim, este é o paradoxo elementar. Sonhar sem saber o que quer, e escrever, sem saber o que sonhou, pois só assim, os seres humanos conseguem ser verdadeiros.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

A Gruta das Luces


- Eu sou um animal.


E dizia isso repetidamente. Embora ninguém lhe desse crédito, todos tinham medo dele. Nas atitudes, era realmente um animal. Don Pablo tinha aquele olhar furioso de um bicho selvagem e andava encolhido, torto, como se preparado para qualquer ataque. Insuportável, com aquela ladainha que não saída de sua boca...

- Eu sou um animal.

Também eram notáveis seus desejos assassinos. Seus olhos enrubesciam e as pupilas dilatavam sempre que olhava para as pessoas de sua vizinhança com quem não ia com a cara. Senhor Alonso que lhe diga. Dia houve em que Don Pablo mordeu-lhe o braço com tanta voracidade que chegou a arrancar-lhe um pedaço da carne. Até hoje senhor Alonso usa um tipo de proteção no antebraço direito, do qual lhe restaram poucos movimentos conscientes. O povo no vilarejo estava começando a acreditar que ele era realmente um animal, e que não pertencia àquela população. Já foi exilado na floresta várias vezes, mas sempre voltava. A cada lua cheia, Don Pablo aparecia na manhã seguinte desmaiado perto da lata de lixo em um beco escuro. Quem sempre o encontrava lá estirado – e fazia questão de esconder este fato de todos – era seu fiel amigo e protetor Miguel Delacqua, ou simplesmente Dela. Dela era um rapaz de baixa estatura, de descendência francesa, com uma cabeleira de notável descuido, mas de bons músculos, ombros largos, que suportavam o peso de seu amigo todas as manhãs. Era um humilde sapateiro do vilarejo, porém todos o conheciam, principalmente por ter contatos próximos com a “Besta”.

Apesar de todos seus contras, Don Pablo era um homem inteligente, o professor do vilarejo, o homem das ciências, dos números e dos mistérios da natureza. Interessava-se pelos fenômenos até então inexplicados, como o brilho prateado fascinante de algumas “pedras” de uma Gruta próxima ou então as queimaduras causadas quando uma pessoa ficava muito tempo em contato com as mesmas. Pessoas chegavam até a morrer, vítimas de um mal que se acreditava ser causado pelas “pedras”, chamadas de Luces. A Gruta das Luces foi bloqueada pela população local, mas mesmo assim, Don Pablo e Dela sempre iam lá fazer suas pesquisas, apesar de não conseguirem ficar mais de 15 minutos dentro da Gruta sem que uma tontura desorientadora lhes dominasse.

Uma lenda local diz que, há muitos anos, um garoto de cerca de 10 anos entrou na Gruta, encantado pelo brilho das pedras, só que nunca mais saiu de lá. Várias tentativas de encontrá-lo já foram feitas, mas até o presente momento, nenhum sucesso. Muitas pessoas dizem que o garoto provavelmente deve ter morrido por causa do efeito das Luces, mas um pequeno grupo de anciãos afirma ter visto um vulto sair da Gruta, algumas semanas depois. O vulto brilhava intensamente. Tão intenso que parecia um reflexo terrestre da Lua, que no céu estava cheia aquele dia. Depois de alguns segundos fora da Gruta sem qualquer movimento, fugiu rapidamente para a floresta, para o meio das densas árvores.

Pablo chegou ao vilarejo alguns anos após o surgimento da lenda, e logo que soube do ocorrido, quis investigar. Ficou amigo do sapateiro que costumava engraxar seus sapatos e o convidou para ajudar-lhe em suas buscas, já que era forte e parecia destemido. Desde então, Pablo e Dela ficam rondando a Gruta das Luces todos os dias. Isso se tornou até obsessão para eles. Pablo ainda era jovem, recentemente terminara os estudos, e era sedento por conhecimento. Tanto que, uma vez, depois de alguns meses de residência no vilarejo e pesquisa na Gruta, com toda a animação proporcionada pela tal descoberta que fizeram aquela noite, Pablo chegou a dispensar a ajuda de Dela, mandou-o para casa, já que era muito tarde, e passou a noite na Gruta. Na manhã seguinte, Dela o encontrou deitado próximo de uma árvore da floresta, com as roupas rasgadas e com o rosto coberto de sangue, porém sem nenhuma ferida. Levou-o para sua casa e deitou-o na cama de armar, que parecia muito desconfortável. Pablo só acordou na manhã seguinte, perguntando a Dela o que tinha acontecido para estar na casa do amigo. Dela agiu como se nada tivesse acontecido, mas sabia que Pablo não estava tão normal quanto aparentava. Estava lhe chamando de Miguel, o que não costumava fazer, deixava o cabelo desarrumado, apesar de ser extremamente vaidoso e engoliu com voracidade o café da manhã mirrado que Dela lhe ofereceu. Mas até o momento, nenhuma grande diferença. Um mês depois, quando era Lua cheia de novo, começaram os sintomas que perduram. O andar, o olhar e a tal frase, que não lhe abandonava.

- Eu sou um animal.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

L'Etérnel Prince


Quando a gente está triste demais, gosta do pôr do sol. A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar, mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de Sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra, o teu me chamará para fora da toca, como se fosse música... O que nos salva é dar um passo, e outro ainda.

O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca, o amor verdadeiro nunca se desgasta, o amor verdadeiro é a única coisa que, quanto mais se reparte, mais cresce. Amar não é olhar um para o outro, mas sim juntos, olhar na mesma direção.

Viva o hoje, pois o ontem já se foi, e o amanhã talvez não venha. Não é a distância que mede o afastamento, mas o verdadeiro homem mede sua força quando defronta o obstáculo. É o espírito que conduz o mundo, e não a inteligência.

No meio da multidão também nos sentimos sozinhos... Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo. Os olhos são cegos, é preciso ver com o coração, mas poucas pessoas se ocupam com o que não seja elas mesmas.

Uma pessoa, para compreender, precisa se transformar. O amor são caminhos invisíveis que libertam as pessoas. Foi o tempo que dedicaste à flor que a tornou tão importante. E, mesmo que ainda não consiga entender, aí vai uma palavra de amigo: Tu te tornas eternamente responsável por tudo o que cativas.

Dedicado à minha querida amiga Mirela Silva...

sábado, janeiro 29, 2011

Sonhe...mais uma vez, para sempre

Aí está a novidade, colegas! A pitada de criatividade de que falei há uns 2 ou 3 posts. Minha querida amiga Alexia Almeida agora contribuirá com seus textos sonhadores por aqui. É uma alegria te receber, Alexia...
Aproveitem!


Desde pequena na idade, lia os famosos contos de fadas e fantasiava. Brincava o dia inteiro, me entupia de doces e só me preocupava em ser feliz. O tempo passou. Aprendi que a vida era mais do que isso, tinha que enfrentar os pequenos problemas - que para mim, eram os maiores do mundo -, as responsabilidades e ainda as pessoas. Quando percebi, estava me deparando com o mundo adulto! Sem saber o que fazer e como agir a este novo mundo que eu estava entrando, passei a observar. A observar as pessoas, os lugares, eu mesma, tudo. Mas era estranho, era bem diferente do que eu estava acostumada a ver. Havia muitas lágrimas. E não eram lágrimas de quem acabou de receber uma bronquinha dos pais. Eram corações feridos! Pessoas estressadas e que não conheciam o amor verdadeiro, e por isso, diziam sempre que este não existe.


“Príncipe encantado? Hã? Isso só existe em livros. Deixe de bobagem, menina!”

Sempre a mesma coisa... E eu não queria nem saber, queria continuar com minhas futilidades, viver e pensar da minha maneira e ser feliz. Mas os adultos – ah, os adultos!... -, me diziam tudo ao contrário: “ Você não pode comer assim, vai engordar.” “Ei, está no mundo da lua, é?” “Essas pessoas que você conhece, logo irão sair da sua vida, você vai ver.”

Até que comecei a refletir. Observar e refletir. “Por que elas agem dessa forma? Por que elas não vivem para sentir? Por que vivem de modo tão racional e chato? Como foi a infância delas?”

Até que, certa vez, bisbilhotando meu armário, avistei bem ali no fundo um livro rabiscado. Com aquele olhar curioso típico de uma criança, o peguei. O livro tinha por nome “Magia, o Mestre dos Sonhos”. Senti um prazer enorme. Abri e comecei a ler.

Ao terminar de lê-lo, já obtinha na ponta da língua a resposta para tudo o que eu estava especulando.

Hum... E agora? Talvez experimentar saber um pouco da minha verdade seria perfeito! Se você quer? Aí vai.

A maioria dos adultos são submissos à sociedade. Obedecem à tudo o que ela impõe só para ser aceitos. Mulheres se deixam levar pelo padrão de beleza. Homens se deixam acreditar que para ter estas mulheres bonitas, precisam ter dinheiro.

Em alguma época de suas vidas, quando saíram da infância e começaram a adentrar o mundo adulto, assim como eu, tiverem que passar por uma prova, um aprendizado. Mas só naquele aprendizado, que eles imaginavam ser o maior dos problemas – veja só, assim como eu novamente! -, e de cara perderam as “coisas” mais importantes que uma alma humana precisa ter: esperança, sonhos e o amor.

Se esqueceram completamente de como eram felizes quando crianças. E passaram a acreditar que sonhos não valiam mais de nada. Que lástima!

Mas eu não penso assim.

Tentei dizer como eu pensava. Algumas pessoas me achavam estranha, e outras me achavam diferente. Até houve as que diziam que eu tentava ser estranha para ser diferente. Vê se pode!

Eu as deixei usar a Liberdade de Expressão. Mas não me deixaram usar a Liberdade de Ser.

Então eu criei o meu próprio mundo. Na verdade, aquele mesmo mundo que eu tinha quando era criança. Mas, por hoje, ele é bem diferente! Mais original e com mais experiências.

Acredito que, quando uma pessoa passa a desacreditar em algo, é muito difícil fazê-la acreditar naquilo novamente. Apenas uma pessoa que mantém sua alma de criança, consegue dar este feito. Para ela, é muito fácil dar conselhos e usar as palavras; mas sábio mesmo, é aquele que sabe ouvir, acreditar que é capaz e sorrir sem motivos. Assim como eu sorrio, mais uma vez...

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Coragem


 - Isso pode não dar certo. Tem certeza que quer continuar?
 - Mais do que tudo. Pode não dar certo, mas também tem uma chance de dar.
 - É arriscado! E se você não conseguir? Como EU ficarei?
 - Ficará como sempre foi. E espero que minha imagem na tua mente continue a mesma.
 - Sempre! E você sabe disso.
 - Então não há o que temer.
 - Mas te quero por perto! Minha vida não será a mesma se...
 - Não diga besteira! Você é jovem, tem muito a viver ainda. Posso também ser jovem, mas tenho essa obrigação. Não posso desistir agora. Não quando cheguei tão perto. Olhe, eu VOU conseguir. Confie em mim! Pense o que todos esses anos representaram para a gente e tente confiar em mim! Dessa vez por todas!
 - Bem, acho que você está com a razão. Você tem muita coragem, sei que tem. Não posso me deixar influenciar pelo meu medo. Tudo dará certo. - E uma lágrima escorre.
 - Sempre quis fazer isso. É mais que um sonho pra mim, é algo que me completa. Foi este desejo que me manteve com vida até hoje. E é isso que me dá coragem para prosseguir.
 - Eu confio em você e sempre confiei. Sempre estive ao teu lado nas decisões, mas agora... Dá um aperto no coração ao saber que posso te perder, que posso nunca mais te ver, que todos os nossos planos poderão ser perdidos. Isso é algo que não posso controlar, mesmo com minha confiança máxima.
 - Eu também tenho medo de te perder. Mas pense... Se eu conseguir, talvez nossa vida será bem melhor do que antes! Faço isso não só pelo meu sonho, mas por nós dois, que é meu sonho maior!
 - Nada, nem ninguém irá nos separar! Nem aqui, nem aonde quer que a gente vá. Porque aonde você for, eu vou com você.
E de súbito, o entendimento surgiu na cena.
 - Você não está pensando em...?
 - Não aguentaria te ver sem vida.
 - Eu te proibo de pensar nisso. Sou ninguém para alguém perder a vida por mim. Faço isso porque acho certo, e você não vai precisar se acostumar a viver sem mim, porque voltarei para ti aos saltos, te abraçarei e viveremos, ambos, felizes. Mas não quero que você pense nesta hipótese.
E então a cena emudeceu. Tudo aconteceu rápido demais. Mais rápido do eles imaginavam. Mais do que queriam. Se afastaram, a contragosto. Se movendo automaticamente, não queria olhar pra trás... Chorando dedicadamente, não ousava se mover. Já estavam longe o suficiente, quando, quase ao ponto de já não alcançar o campo de visão, olhou para trás, e viu a figura chorosa levantando o braço em sua direção e gritando: "Eu te amo!". Não deu tempo de responder, apenas ouviu, guardou em seu coração e seguiu em frente, agora com um sorriso nos lábios, com a certeza de que tudo terminaria bem.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

E que o sonho se infinde!


E só espero que o sonho não termine. Mas só. Nem quero que torne-se realidade, apesar do sorriso que poderia causar, mas a felicidade não concentra-se em realizações. Muitas vezes, a única coisa que quero é um sonho decente, algo pelo que eu possa lutar, algo que valha realmente a pena.
Quero viver todas as noites em uma realidade que somente eu posso ter. Quero que a mão da tranquilidade se feche em minha mente e possa abranger todos os meus sentidos, para que eu possa ter uma experiência verdadeira. E não, não mais acordar, ficar assim pra sempre, pois assim é melhor. Assim posso realizar todos os meus anseios, exterminar meus inimigos e alcançar a liberdade. Sentir meus cabelos esvoaçarem, mesmo quando a tristeza no mundo deixa-me calvo, quando a esperança já se esvai. E mesmo que haja pesadelos, lidarei com eles como lido com os problemas reais, lutarei bravamente, pelejarei pela felicidade, até a última gota de suor que terei de derramar.
Se necessário, morrerei todas as noites, para poder ser a fênix reluzente todos os dias, rejuvenescer, respirar um ar mais puro. Pena que apenas na minha imaginação. Mas se preciso, imagino meu dia inteiro, faço nascer flores no meu caminho, um sol brilhar à minha frente e todo um horizonte livre, com campinas abertas, propondo-me uma corrida sem perdedores, apenas para extravasar meu sentimento, sem ninguém para deter-me. Voar, sem ter porque pousar. Comer, sem ter que engordar. Viajar sem ter que ficar longe de quem amo. Não podem repreender-me, este é o jeito que encontrei para viver minha real vida, para ser eu novamente, para me sentir completo.
Porque sim, o sonho é um lugar de fantasias, mas é aonde posso realizá-las, traze-las para o meu mundo, compartilha-las entre meus amigos e ser realmente feliz, pois só assim conseguirei sorrir de verdade.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Seleção Antinatural

Muse

Eles rirão enquanto nos assistirem cair
A sorte não se importa nem um pouco
Não há chance para o destino, é uma seleção antinatural
E eu quero a verdade!

Estou faminto por uma agitação
Quero levar isto além de um protesto pacífico
Quero falar em uma língua que eles entendam.

Dedicação a uma nova era
É o fim da destruição e da violência
Uma outra chance de se levantar e nunca mais confrontar.

Desequilibre esta comoção
Não somos apenas gotas em um oceano.

Não há religião nem poderosos combatentes
Há esperança de que os fatos nos encontrarão?
Mas tenha a certeza de que você está procurando pelo número um.

Estou faminto por uma agitação
Vamos levar isto além de um protesto pacífico
Quero falar em uma língua que você entenda.

Tente passar pela tempestade,
Eu ainda te farei acreditar
Que eles são os especiais
E que não fomos escolhidos.

Sua justiça anulou-se
Você não é o primeiro
E você sabe que não será o último.

Desequilibre esta comoção
Não somos apenas gotas em um oceano.

Eles rirão enquanto nos assistirem cair
A sorte não se importa nem um pouco
Não há chance para o destino, é uma seleção antinatural
E eu quero a verdade!

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Verão

Como alguns já devem ter percebido, este blog que lhes fala desde que mudou o nome de "Soap Opera Novel" para "Quando adormecer..." vem sendo amistoso com datas festivas, e procura sempre modificar o visual, acompanhando tais datas, para que a navegação não comece a tornar-se monótona. Já tivemos neve caindo por aqui no Natal, desejos de Paz em mais de 30 idiomas no Ano Novo e, para não perder o ritmo, decidi implantar uma decoração toda especial para o verão, esta estação que muitos adoram, por estar em férias e poder viajar com a família, frequentemente, para praias.
Então, seguindo a onda colorida em que o Brasil se encontra, nada melhor que também seguir esta tendência aqui no blog, na estação mais colorida e agitada de todas! Tento sempre agradar meus leitores, fazendo o máximo possível para não destacar cores muito fortes e facilitar a leitura dos textos... Que aliás, ganharão uma pitada a mais de criatividade em breve! Esperem e verão... (ha, pegaram o trocadilho?)
Mas enfim, curtam o verão ao seu máximo, aproveitem o Sol com responsabilidade e continuem visitando este blog, que conta e sempre contará com seus leitores!

Peace All!