terça-feira, outubro 23, 2012

A faca



                Vinte e cinco de junho de dois mil e três. Dezenove horas e quarenta e sete minutos. Lá fora fazem oito graus Celsius. Faltam exatamente treze minutos para abrirmos as portas e recebermos por esta noite cerca de trezentos clientes ansiosos por um lugar quente e confortável, aonde estes porcos gordos podem ter toda a lavagem que seus milionários bolsos podem pagar. Meu nome é Andrei e sou apenas uma peça desse sistema todo. A peça que recolhe a carne pútrida da caixa de gelo que chamam de frigorífico para então jogar em cima de uma tábua e desfiá-la em fatias igualmente nojentas de um centímetro de espessura e dez centímetros de diâmetro cada, manda-la ainda sangrando para a pessoa mais arrogante e narcisista que já vi na face da Terra, que se auto-intitula chef e servi-la com desprezo ao olhar faminto e selvagem daqueles seres, para quem parecemos nada mais do que servos, escravos. Vinte horas. Chegou a hora.
                Hoje é um dia especial. Hoje faz exatamente três mil seiscentos e cinquenta e dois dias que esta espelunca que prepara comida cara foi aberta pela primeira vez. Obviamente, o prefeito Saint não poderia perder esta oportunidade de se entrosar com seus eleitores mais abastados. Lá está ele, com sua barba ruiva, parecendo estar suja de sangue, seu paletó verde-escuro tradicional do país de seus antepassados, de quem diz ter muito “orgulho”. Está rindo com, me parece, seus parentes. Esta visão me dá náuseas, mas a raiva me faz ficar encarando de dentro da cozinha.
                Andrei, a casa está cheia, seu idiota, pare de ficar aí olhando! — Chama minha atenção um dos colegas de trabalho.
                Viro-me lentamente, sincronizando com meu humor que tem que ser controlado para conseguir parcamente sustentar minha mãe e meus três irmãos pequenos. A pancada do amaciador de carne me traz à realidade. Respiro duas, três vezes profundamente, pego meu casaco que deveria ser branco, agora já está em um tom avermelhado, e entro no frigorífico. As únicas coisas que eu esperava encontrar lá dentro eram gelo, varas de metal e muita carne congelada pendurada nelas. Mas encontro também uma pessoa, de costas, bem no fundo da sala, sem proteção alguma ao frio cortante, dando a impressão de que está analisando peça por peça de carne. Chego mais perto para enxergar melhor através da neblina fria e vejo Robert, o chef.
                — Olá, Andrei. Como está a noite lá fora? — Diz sem se virar.
                — Bem, a casa está cheia. — Digo em um tom extremamente monótono.
                — Ótimo, ótimo... — ele está pensativo demais — Então, acho que temos muito trabalho a fazer, não é? — e também muito estranho.
                — Sim, foi o que vim fazer aqui.
                — Ótimo saber que posso contar com você, Andrei.
                Ele se vira, dá um sorriso largo demais, sincero demais para ser verdadeiro, e se encaminha à porta. Chegando à distância de aproximadamente dois metros da saída, ele diz:
                — Ah, pegue a melhor peça para o prefeito, sim? — sem esperar resposta, vai embora.
                Chego mais perto das peças que ele estava analisando e vejo uma que parece fresca, vermelha, limpa, a melhor peça de carne que eu já vi na vida. Dá vontade de arrancar um pedaço dela com os dentes, crua deste jeito mesmo. Pequena em comparação às outras, mas totalmente suculenta. Tiro-a da vara e a levo para a cozinha. O fedor de alho frito e ervas cozidas já toma o ambiente. O costume não é suficiente para disfarçar o mal-estar que este cheiro provoca. Minha faca não está aonde a deixei. A raiva aumenta. Facas são instrumentos extremamente pessoais e não devem ser tocadas por outras pessoas senão os donos. Fecho os olhos e torço para que ela apareça na minha frente quando eu os abrir. Quando abro os olhos, deparo-me com Robert segurando uma bela faca, quatorze centímetros de um cabo azul escuro adornado de enfeites em dourado e prata, vinte e sete centímetros de uma lâmina afiadíssima que herdei de meu pai. A lâmina estava com manchas vermelhas.
                — Esqueci-me de lhe devolver. Não consigo achar minha faca em lugar algum e, como esta é a melhor que temos aqui, tirando a minha, resolvi empresta-la por uns minutos. Você não se importa, não é? — ele está de volta ao normal.
                — Não, tudo bem. — Estendo minha mão para receber o instrumento. Robert coloca-o na minha mão, mas com a lâmina voltada para a minha palma. Respiro fundo, já imaginando que isso ia acontecer. Preciso prender a faca entre meus dedos para ficar longe da lâmina e tira-la da mão deste propenso psicopata. Sinto uma dor aguda enquanto a lâmina começa a correr pelas linhas da minha mão quando, num reflexo, giro a mão para cima, segurando firmemente no contragume. Robert olha penetrante em meus olhos.
                — Lave a faca e comece a trabalhar. — diz, ameaçadoramente.
                Digo absolutamente nada. Faço o que ele manda, lavo a faca, mas o sangue nela está tão fresco que é fácil de tirar. Começo a cortar a carne, mas percebo que a tonalidade de vermelho dela é diferente também das outras carnes. E é igual à tonalidade de vermelho presente anteriormente na faca. Estranho por um segundo, mas penso que deve ser uma qualidade de boi mais apropriada para receber uma autoridade como o Sr. Saint. Escuto uma conversa abafada de cozinheiros do outro lado da mesa de inox.
                — A Bernadette ficará com problemas. Ontem discutiu com o Bob, hoje nem deu as caras. Deve ser por isso que ele está tão raivoso.
                — Mas ela mereceu. Ela ficou louca de inventar que a comida aqui é estragada. Ainda bem que deram um jeito de contornar a situação. Passe-me o maçarico, por favor?
                Bernadette, a mamma do restaurante, a melhor cozinheira que este país já viu, uma simpatia de pessoa e minha única amiga de verdade aqui. Ela me trata realmente como um filho. Ela estava certa sobre a comida estragada, eu presencio isso todos os dias, cortando aquelas carnes já verdes. Aliás, todos sabem disso aqui. Alguns, como esses dois, são influenciados por Robert, ou Bob, como estes bajuladores gostam de chamar, ou então não tem coragem suficiente para enfrentar o chef. Ela está aqui desde que o restaurante abriu, costumava ser a chef e todos a respeitavam. Desde que o pai de Robert comprou o restaurante, há dois anos, Bernadette foi destituída do cargo e só conseguiu um lugar de cozinheira por sua experiência. Fico me perguntando se ela não veio hoje por medo do que Robert podia fazer para ela. Talvez ele já tenha até falado com o pai e ela tenha sido demitida.
                Eu mesmo não deveria estar aqui. Quando meu pai morreu eu tive que assumir o lugar dele de cozinheiro, mas comecei por baixo, obviamente.  Sempre sonhei em mexer com números. Eles dançam na minha frente como um balé magistral e se arranjam de forma esplendorosa de forma que, naturalmente, consigo manipula-los na minha cabeça e fazer contas que muitos somente conseguiriam com o auxílio de uma máquina calculadora. E só estudei até os quinze anos.
                Mas aquelas informações não estavam muito sincronizadas em sua dança. Primeiro, o deslumbre quase vitorioso e totalmente esquizofrênico de Robert no frigorífico. Depois, o sumiço da minha faca seguido pelo ataque de Robert à minha mão. A carne diferente. O sangue. Bernadette.
                A partir deste momento, não sei mais o que é real ou não. Sinto algo, sei disto, mas é mais interno do que externo. Isto que sinto, não sei definir bem, é uma mistura heterogênea entre adrenalina, nervosismo, sangue, histeria, compreensão e raiva. Caldeirões inteiros de raiva derramados sobre minha alma. Sinto minha pressão baixar, meu rosto ficar insensível, mas uma ruga entre minhas sobrancelhas está se formando, sei disto. Sei também que o sangue parece ter coagulado em minhas mãos e elas ardem. Vejo meu punho fechado com força em torno de um cabo de madeira tingido de azul, extremamente bonito, a faca do meu pai, a faca que é o único bem que possuo. Minhas articulações dos dedos estão brancas. Respiro involuntariamente três, quatro, cinco vezes, rápido, mas não penso. Não penso em nada do que faço a partir do momento em que entendi. Em que as peças do quebra-cabeça se encaixaram e deram seu último pas de bourrée em direção ao grand finale. ASSASSINO.  ASSASSINO. ASSASSINO.
                Vejo-o entrar novamente no frigorífico e o sigo. Ele não percebe minha presença porque o circulador de ar dentro da sala foi ativado e o barulho é ensurdecedor. Mas quero que ele me olhe nos olhos. Quero ver isto, sentar na tribuna e ficar apreciando o espetáculo do lugar mais privilegiado que existe. Frente a frente, olhos nos olhos. Ele avança em direção à parede da sala e abre uma espécie de porta secreta que eu nunca soubera da existência. Chego mais perto e vejo lá dentro corpos, muitos corpos nus, por volta de quinze corpos empilhados. O fedor é insuportável. Deve ser por isso que ele veio pra cá justamente quando a sala estava com o ar circulando, para disfarçar o cheiro. No topo da pilha, vejo uma massa grande, com cabelos curtos ondulados e aparência idosa. Bernadette. Parece que Robert achou sua faca, pois está desembainhando-a, puxando uma perna do corpo de Bernadette e cortando um pedaço considerável. Sua faca é da mais alta qualidade e em questão de segundos ele tira um naco de carne e guarda em um saco transparente. Vejo que o outro lado do corpo de Bernadette já está boa parte decepado. A carne que eu estava cortando. Sinto um enjoo profundo ao perceber isto, mas preciso me manter firme. Robert se levanta e vira. Parece que a esquizofrenia voltou, pois não parece nem um pouco surpreso por me ver ali.
                — Ah, Andrei. Parece que nossa despensa está com produto novo, não é? Mas... Eu acho que ele não vai durar muito tempo... Sabe como é, carne velha não é muito boa. Acho que eu preciso de carne nova, para... Atrair mais fregueses. Concorda?
                — Seu louco! O que você fez?
                — Vamos lá, Andrei. Há quanto tempo este restaurante não tem tantos clientes?
                — Você é doente.
                — Ah, bem. Então neste caso, creio que já achei minha carne nova.
                Ele saca sua adaga de dois gumes com lâmina de trinta centímetros e parte para cima de mim. Consigo desviar o primeiro golpe, mas o segundo corta meu braço esquerdo. Não tenho muita condição física, mas sei manejar uma faca muito bem. Revido. Um, dois, três golpes evadidos. Parece que Robert é mais ágil do que eu imaginava. Ele se recosta na parede e eu avanço. Um grande erro meu, pois no momento em que ia cravar a faca em seu coração, ele gira, bato com a cabeça na parede e saio com um corte mais profundo no ombro direito. Ele se move com facilidade e eu sou muito desastrado. Não tenho nem tempo para recuperar o fôlego, já vejo Robert empunhar a adaga não para cortar, mas desta vez para perfurar. Ele corre e, pelo que acredito ser um milagre, dou um salto para o lado e consigo fazer um corte em sua calça. Ele parece ficar com raiva e avança com a vitalidade de um atleta. Uso o gelo em meu favor e corro para um lado da sala enquanto ouço-o escorregar, mas não cair. Estou a uma distância teoricamente segura, mas ele ainda avança. Seus movimentos parecem ensaiados, longos e esguios. Parece... Um dançarino. É isso. Percebo que o braço direito não tem mais forças, então troco a faca de mão. Apoio o contragume da faca na palma da minha mão e fecho meu punho, deixando a lâmina entre meu polegar e indicador. O contra disto é que não sou canhoto, e tenho uma inabilidade latente no braço esquerdo. Vejo meu adversário se aproximar a passos lentos e o espetáculo começa. Números, linhas, parábolas e circunferências se formam à minha frente e no meu braço e punho. Encontro uma maneira confortável de segurar a faca e vejo o ponto. Lanço a faca. Parece que tudo se movimenta mais lento, vejo a trajetória da lâmina prosseguir no compasso certo, em direção ao coração. Robert percebe a lâmina encaminhando-se em direção a ele e se assusta. No susto, ele escorrega e cai. Mas não há mais salvação. Neste momento a cena volta à velocidade normal e vejo que minha faca está rápida demais para errar o alvo. Acaba entrando bem na traqueia, o que faz com que Robert fique tremendo no chão, sufocando, sofrendo. Segundos depois, vejo o tremor cessar e o sangue se espalhar pelo gelo. Está acabado.
                De dentro da cozinha fico assistindo o prefeito, que deve ter acabado de contar uma piada para a mesa estar rindo tanto, receber uma bandeja de cúpula com o prato principal. Ele fica animado e pede para a enorme filha de doze anos abrir a cúpula. É surpreendente como a expressão da mesa mudou tão de repente de excitação para terror absoluto. Porque em cima da bandeja estava a cabeça do chef.

sexta-feira, setembro 14, 2012

Escape

"But I'll still take all the blame
Cos you and me are both one and the same
And it's driving me mad"
                                              Muse

Eu nunca entendi o amor por completo. Já me disseram muitas coisas sobre ele, muitas das quais, aliás, eu nunca acreditei, pois simplesmente não aceitava que isso podia ser a verdade. Hoje começo a compreender um pouco mais, só que já perdi minha capacidade juvenil de julgamento de sentimentos. Se a compreensão viesse na adolescência, com certeza teríamos jovens menos impulsivos e adultos menos arrogantes e insensíveis. Às vezes chego a pensar que perdi todos os sentimentos, que nunca poderei amar de novo. Às vezes esse pensamento se prova errado, às vezes se prova absolutamente verdadeiro. E eu sou a fita presa no nó bem no meio da corda, que é constantemente puxada, de um lado para o outro, de um lado para o outro, sufocando a cada puxão.
Eu pensava que a resposta era fácil. Simples. Ame-a e pronto, é tão fácil amar! No final nada é tão simples, é? Naquela dourada época eu via a vida passar diante dos meus olhos com tanta sutileza e, paradoxalmente, com tanta intensidade que me deixava maravilhado a proposta que esta entidade que nos dá alma me ofereceu ao sussurrar no meu ouvido "vá e ame". E eu amei, sem saber de nada, sem QUERER saber de nada. O amor me parecia algo tão puro, tão singelo, tão focado, tão sublime que eu me entreguei, sem nem pensar que aquilo não dependia só de mim. Só que no exato momento que eu percebi que não, não dependia só de mim, eu tremi. E a criança chorou. E, como todos os choros são acompanhados de crescimento, a criança cresceu, e com o crescimento veio o aprendizado. Mas com relação ao amor ninguém aprende, não é mesmo?
A vida sempre me ensinou direitinho a nunca confiar demais, a sempre esperar TUDO de TODOS, sendo que a qualquer momento qualquer um pode te surpreender. E eu aprendi isso da pior forma possível. Por isso sei que hoje eu sou uma pessoa muito diferente de, digamos, 5 anos atrás, quando ainda tinha o impulso e o fervor adolescente. Hoje sei que se eu não tomar decisões baseadas na razão e depois de profundas reflexões sobre os hipotéticos benefícios e os prováveis prejuízos, irei certamente me surpreender, e, convenhamos, quantas surpresas negativas não temos nesta vida? O suficiente para nos refrear antes de decidir algo que pode mudar nossa vida. Hoje em dia eu tenho a consciência de que as pessoas me têm como uma pessoa "pé-atrás", desconfiada, objetiva, racional, até certas vezes insensível.
Mas afinal, não, não quero fugir. Nunca poderia, nunca conseguiria... Novamente. Encaro de peito aberto as imposições que a vida coloca sobre mim e agora sei que não posso simplesmente escapar de meu destino, se é que reservaram algum para mim. Porque eu sei que se para todos existe uma alma gêmea, há para mim também. E está perto, sinto isso. Porque somos um ser só, tuas angústias são as minhas, tuas tristezas são as minhas. Tuas alegrias são as minhas. Um só coração que compartilha as estrelas do céu. É isso. Temos algo que sempre será o mesmo para os dois. O céu, o brilho das estrelas, o encantamento da Lua. Mesmo você aí e eu aqui sempre teremos o mesmo firmamento sobre nós.
Eu aprendi. E espero que você também aprenda e veja. Somos um. E um ser não pode se separar de si mesmo... Por mais que o mundo e nossa própria mente diga o contrário. Venha comigo e me torne completo.

quarta-feira, junho 06, 2012

Meu abraço está te matando?

Às vezes me pergunto de onde surgiu o abraço. Qual foi o fantástico ser humano que inventou este confortável gesto que tanto nos acalma. Cheguei a uma conclusão de que pode muito bem ter sido inventado ainda na pré-história, quando nós humanos ainda não tínhamos o fogo, e precisávamos nos aquecer. Uns ficavam perto dos outros e enlaçavam seus membros no companheiro que estiver mais próximo, para manter o calor corporal.
À medida em que se foram criando laços afetivos entre seres humanos, um abraço já tinha significado psicológico. Queria dizer "eu te protejo, eu te aqueço, eu vou com a tua cara e não quero que você morra". Mas os humanos perceberam que, além de manter a temperatura, aquele negócio era confortável e aproximava o teu corpo da outra pessoa, fazendo as demonstrações de afeto bem mais românticas e agradáveis. Aí percebemos que encarar o ser que você tem afeto, ao invés de apenas reproduzir dá uma sensação incrível e muito legal. Começamos a amar de frente, olhando nos olhos, aquecendo e sendo aquecidos.
Só que com o passar do tempo, o abraço foi ganhando uma conotação íntima muito forte. Na Idade Média, o abraço já era um privilégio apenas para casados, pais e filhos e amigos do mesmo sexo. Se um homem abraçasse uma mulher em público, ele poderia ser preso por assédio. Nos dias atuais, não só o abraço, mas o contato físico entre desconhecidos muitas vezes é considerado invasão de espaço pessoal. As pessoas não se tocam mais, tem nojo umas das outras.
Pessoalmente, um abraço é um dos melhores contatos que duas pessoas quaisquer podem ter. O calor emanado, as peles roçando, o conforto imensurável de estar nos braços de alguém do teu afeto. É uma das melhores sensações que se pode sentir, é estar ali, imobilizado, mas lutando intensamente para ficar assim para sempre.
O primeiro abraço que recebemos geralmente é o de nossa mãe, logo ao nascer... Talvez seja por isso que é tão confortável. Você se sente protegido, de volta ao ventre materno, além deste gesto significar um carinho de nível elevado, sendo que fazendo isso, inconscientemente, você está representando a mãe do indivíduo a quem está abraçando.
Por isso, abrace. Abrace para nunca mais soltar. Demonstre o teu carinho por aquela pessoa tão especial mas não a sufoque. Não a mate. Deixe-a abraçar-te também, deixe essa pessoa mostrar o quanto você vale pra ela para que só assim os corpos em contato possam significar um progresso no intento de unificar ambos os corpos.

quarta-feira, maio 30, 2012

A Teia

Uma vida é sempre uma vida a não ser que se prove o contrário. Como provas hoje em dia são escassas e a vontade de procurar por elas, mais escassas ainda, diria que estamos fadados a viver na não-relatividade das coisas, embora tudo o que vemos é relativo. Aliás, tudo o que sentimos é relativo, já que nos ponderaram ser diferentes uns dos outros.
Temos um contrato de vida. Eu faço a minha parte, você faz a tua e teus semelhantes fazem a deles, o que não significa necessariamente individualidade de destinos. As linhas do destino são fios de aranha. Finas, frágeis a olho nu, mas juntas são fortes o suficiente para a sobrevivência. Uma aranha constrói sua teia para servir de fortaleza e para arranjar comida. Os insetos que passam por ali voando não enxergam os fios e se prendem neles, não conseguem escapar e acabam devorados pelo aracnídeo. Agora imagine a mesma cena se os fios estivessem avulsos, soltos uns dos outros. Os insetos passariam direto por eles, quebrando-os sem nem perceber sua presença. E a aranha morreria de fome.
Os fios somos cada um de nós. Frágeis, invisíveis e basicamente inúteis. Aí começam a surgir mais e mais fios, cruzando o nosso, se juntando ao nosso, fortalecendo o nosso, até que formamos uma sociedade consistente e teoricamente indestrutível. Tudo depende do ângulo da nossa ligação e de quão ativa é nossa participação neste processo de união. O algoritmo é simples. Quem fica na borda tem mais chances de ser quebrado do que quem está lá, junto, no coração do emaranhado.
Os insetos são as barreiras que nos impedem de alcançar nossos objetivos. Quando estamos desalentados, sozinhos, frágeis, é muito mais fácil de os obstáculos nos arrebentarem e mudarem o nosso destino, deixando-nos flutuando, perdidos no tempo-espaço, perdidos na nossa própria mente, sem saber o que fazer. Entretanto, quando nos unimos, cruzamos nossos destinos, fazendo uma malha impenetrável, os problemas são facilmente capturados e mais facilmente ainda imobilizados e resolvidos.
A aranha é nosso criador... Seja lá quem for, independente da religião, todos devem crer em algum princípio gerador. Nos joga no mundo com um propósito, embora não saibamos direito qual é quando estamos sozinhos, sem ninguém pra compartilhar nossos dias. A partir do momento em que nos unimos, nossos destinos parecem começar a fazer sentido, ficamos fortes e formamos uma bela obra de arte feita pelo criador. Mas ainda somos basicamente inúteis. Quando aparecem os problemas, percebemos o que podemos fazer, juntos e inseparáveis. O criador se fortalece com nossos sucessos coletivos, pois assim podemos apresentar o resultado de nosso esforço e mais fios são feitos.
Na base de tudo, os problemas, quando são enfrentados coletivamente e com determinação, ajudam a nos fortalecer se soubermos lidar com eles com astúcia. Essa é a importância dos amigos, da família e, principalmente, da vida.
Lembrando também que o objetivo final desta vida, que é realmente uma teia, não se trata das conquistas nem dos resultados. A graça da vida está na busca, na luta e no esforço para unir os destinos de todos.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Amor


Sei que pode parecer clichê... Até o título da postagem é clichê... Comunzinho, trivial. Mas quero deixar bem claro que minhas intenções com esta postagem são mais do que parecem.
Não disse qual é a intenção deste blog desde quando reformei-o. Quando era Soap Opera Novel, tinha a intenção de escrever textos de minha autoria para puro deleite dos leitores, e maior ainda, meu. Não tinha nada além disso, eram apenas textos. Por isso mesmo decidi reformar. Não queria que uma coisa que eu construísse tivesse impacto mínimo nos leitores. OK, eles podem achar o texto bonito e tudo o mais, mas eu quero mais que isso.
Quero entrar na mente do leitor e causar algo lá dentro. Quero causar emoções, desejos, reflexões. Quero ser o leitor. Quero mexer no psicológico das pessoas e persuadi-las a tal ponto que elas acreditem que o que eu falo é verdade. Mas sim, tudo o que eu falo é verdade, pelo menos para mim. E, assim, para mim faz sentido. Muito sentido. E tento passar este sentido para as outras pessoas, pra elas saberem o que eu penso. Quero que os leitores sejam eu.
Interesso-me pela mente humana, pelas suas restrições e pelos seus poderes. Mais nos poderes do que nas restrições, porque eu realmente acredito que a mente humana é poderosa. Se ela acredita em uma coisa, se acredita realmente, se esta crença definitivamente tomar conta da mente da pessoa, isto torna-se real. Dizem que nada se cria, tudo se transforma... A mente cria E transforma. E quero, com estes textos, que os leitores criem, inventem e transformem a própria mente. Não quero impor meu pensamento para que eles pensem igual a mim, absolutamente. Quero somente dar a chance para eles abrirem suas mentes, para aí sim elas abusarem da verdade por conta própria. A verdade pode ser modelada de acordo com a vontade de cada um. Cada um cria a sua própria verdade. O que eu faço é apenas fornecer combustível para a chama da reflexão começar a queimar. Sou dono da verdade? Negativo, cada um é dono da própria verdade, o que faço é distribuir, gratuitamente, um meio para a verdade pessoal se propagar, por meio do pensamento.
Também escrevo muito sobre sentimentos. Dos mais variados, mas tento não incentivar ninguém a sentir nenhum deles, apenas falo sobre minha opinião. Se agrada, se desagrada, é minha opinião, cada um tem o direito de formar a sua. Mas é exatamente isso que eu quero. Não quero que todos adorem tudo o que eu falo, quero que a discussão se forme e que minhas palavras causem pelo menos uma faísca na mente das pessoas. Quando falo sobre sentimentos considerados "maus", não me prendo só na obscuridade de tais, mas sim, tento discutir a origem deles, seus conservantes e seu fim. Quando falo de bons sentimentos? Ah, isso é o que me leva ao título da postagem. Quando falo de sentimentos bonitos, não simplesmente falo sobre eles. Tento agarrá-los nas mãos, abraçá-los, como se fossem meus, e já que meus são, posso descreve-los como bem entender. E a intenção não é faze-los somente meus. A intenção é faze-los dos leitores. A intenção de todo escritor é fazer os leitores se apaixonarem por eles, serem fiéis, serem dos escritores. Minha intenção vai além disso. Minha intenção é dar a chance para que as pessoas possam cada vez mais amar.