quinta-feira, março 31, 2011

Dê-me uma letra!


O que é difícil ao encontrar ares para escrever não é a história em si, nem personagens, nem como ela vai acabar. Isso qualquer criança de 5 anos consegue pensar. Aliás, conseguem melhor que nós, que nos consideramos adultos o suficiente para subjulgarmos as crianças. Conforme o passar do tempo, perdemos a essência, a criatividade, o núcleo que tanto nos fazia felizes. O mais difícil de todo o texto é algo ínfimo, mas que lhe confere todo o sentido.
O ato de escrever é mais que um simples descrever de ideias, pensamentos e conclusões. Há a coesão, há o sentido, há uma inexplicável ligação entre as palavras, que só se consegue quando se está com a mente livre... Livre de qualquer negatividade, livre do verdadeiro sentido, deixando-a solta no espaço, pronta para criar. O mundo que escrevemos é indiscutivelmente diferente do que vivemos, porque é só nosso, sem fatores externos para atrapalhar, muito menos para ajudar. É o próprio autor com seus personagens, que nada mais são além de meras projeções das personalidades escondidas de seu criador. E o criador vira a criatura, e vive dentro dela. E passa a existir a metalinguagem, que é a mais bela de todas as funções da linguagem, pois é o idioma dos sonhos. Você interagindo consigo mesmo, enquanto te crias a partir das memórias que lhe formam. Parece confuso, mas ninguém disse que os sonhos existem para ser entendidos. O paradigma dos sonhos é esse... O paradoxo, a metalinguagem, o impossível que torna-se absolutamente fácil dentro da mente. E é disso que tratamos quando escrevemos. Do nosso íntimo e significante paradoxo que, por não ter sentido algum, confere-nos todo o sentido da existência.
E o que seria da criatividade sem o paradoxo? O que seria do paradoxo sem a criatividade? Ambos andam juntos, e funcionam juntos quando sonhamos e quando escrevemos. Sonhos são independentes. Acontecem sem consentimento e repentinamente, podendo tomar todas as formas possíveis e imagináveis, sem as barreiras cotidianas. Gostamos de sonhar, mas não podemos cotnrolar os sonhos... Até um momento em que eles viram pesadelo e começam a perturbar-lhe. E a melhor parte disso tudo é que a criatividade surge em meio a tempestades e dias ensolarados. É só saber aplica-la. Aliás, recorremos mais à arte quando nosso espírito está incompleto, quando estamos tristes.
Não gosto de escrever. Não é algo que faço 24 horas por dia, nem o que faço em meus momentos livres. Escrever é meu dever, minha vocação, algo que vai além da vontade de expressar uma ideia, algo que vem do interior, do fundo do meu subconsciente. Quando percebo, escrevo mil palavras sem sentido, mas que pra mim, formam o conjunto da concretização dos meus sonhos. Para mim, este é o paradoxo elementar. Sonhar sem saber o que quer, e escrever, sem saber o que sonhou, pois só assim, os seres humanos conseguem ser verdadeiros.