domingo, outubro 17, 2010

Som da alma


Baseado em fatos reais

Calma, a bela jovem observava de longe o andar nas ruas agitadas, chuvosas e poluídas da cidade grande. Desde que chegara do interior, nunca mais teve a paz que queria, ou que poderia ter. Mas gostava de apreciar a multidão, as cores, mesmo que majoritariamente cinzentas, os rostos das pessoas, e imaginava se um dia ainda iria voltar para sua cidade natal, pequena, mas linda cidade, que lhe ofereceu tudo que precisava na infância.
Sua paixão estava verdadeiramente no som. O rádio era seu companheiro para todas as horas, tanto que até chegou a divulgar sua voz pelas ondas da rádio de sua cidade. Mas ao partir para a cidade grande, abandonou o radialismo por questões puramente práticas. Mas nunca deixou o amor à música de lado. Porém, os sons da cidade grande conseguiam abafar seus ouvidos tão acostumados à calmaria e às notas puras que ouvia do seu aparelho de rádio.
Trabalhava, desde a mudança, na parte administrativa de um sindicato. Não era nem perto de onde ela queria chegar, mas era o que estava disponível. Ela queria fazer uma faculdade, completar os estudos e mudar a monotonia de onde vivia. Queria dar valor à sua criatividade, queria publicidade. Queria, além de tudo, algo pelo que valesse a pena lutar.
A calmaria, na verdade, apenas escondia uma profunda angústia, à qual não sabia nomear. Toda aquela dinamicidade ali, na frente dela, algo lhe incomodava. Não encontrava o que queria, tudo parecia desorganizado, e sua mente já não trabalhava com a liberdade de antes. Sufocava-se cada vez que pensava na possibilidade da falta de ar, e não imaginava como poderia sair daquela situação desconfortável. Chegou a desistir. Sim, desistir de tudo, de pensar, de tentar, de viver.
Mas justamente quando estava chegando ao fundo de sua decepção e depressão, aconteceu algo que mudou seu ser. Uma música, justamente em seu aparelho de rádio, tão amado aparelho de rádio, que soava em seus ouvidos como um não desista e aproveite o que a vida tem a lhe oferecer. Sentiu um calor no seu corpo que espantou toda a frieza da angústia. Seus olhos voltaram a brilhar, e até a cidade ganhou cores vívidas. Nunca tinha escutado aquela banda, mas sabia que era sua salvação.
Sabia que poderia voltar a sorrir, mesmo estando presa à monotonia. Porque tinha a música como companheira.

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