sexta-feira, dezembro 13, 2013

À mesa de um bar


Eu me imagino com você, sentados à mesa de um bar, com dois copos de chopp à nossa frente, conversando como se o tempo não existisse.
Neste dia está fazendo frio e você está usando aquela jaqueta que eu acho tão macia, tão gostosa. Teu perfume é doce, e acho que provém de teus cabelos. Teus cabelos pretos recém tingidos, curtos e despenteados despreocupadamente daquele jeito que eu acho tão engraçado, e que fica tão bem em você. Tuas pernas cruzadas levemente sob a mesa, com botas negras, iguais ao cabelo, e tuas mãos fazendo gestos despretensiosos enquanto fala. Mãos com as unhas cuidadosamente cortadas, sem esmalte, do jeito natural que você gosta de ser, e que eu admiro tanto. Teus olhos cheios de luz, vívidos com a enxurrada de informações que você quer despejar sobre mim. Teu nariz redondo, perfeito. Tuas bochechas coradas em despeito ao tempo invernal, mostram sua alegria e interesse. Parece uma garotinha, embora eu saiba que já é uma mulher. E a boca, ah, a boca, lábios suaves, cheios. Não paro de olhar para eles. Mas algo mais forte me atrai para os olhos. E fico fazendo este caminho de segundo em segundo enquanto bebo um gole ou outro, e escuto aquele som maravilhoso que sai da tua boca.
Está perfeito aqui, posso ficar assim a noite toda. E eu escuto. Falo às vezes para dar seguimento ao assunto, mas basicamente escuto. Não quero atrapalhar a sinfonia em prestissimo das tuas palavras. Ao fundo, toca Cranberries, bem baixinho, de forma que a música irlandesa serve como uma toalha para o banquete de tuas palavras. Meu chopp já está quase no final e o teu nem chegou na metade ainda. Acho legal como você consegue unir dois assuntos tão distintos um com o outro, e segue falando como se fossem um só. Você conta uma piada, eu rio. Outra piada logo em seguida e meu estômago já está doendo de tanto rir. Você me faz sentir coisas engraçadas. Meu rosto se aquece, mesmo com o frio que faz. Minha face se contorce em uma expressão solidificada, um sorriso que tenho certeza que me confere novas rugas. Sinto-me leve, como se pudesse estar protegido de todo mal enquanto você está por perto. Acho incrível tua alegria, o sentimento que você transmite. Acho que é o shampoo. Ou simplesmente a voz que prende.
Meu chopp já acabou faz tempo, mas não ajo diferente, continuo prestando atenção nas tuas palavras, que cessaram um pouco para dar um espaço para eu falar, mas não tinha muito o que falar. O momento fala por mim, assim creio. Teu sorriso quando eu tento contar uma piada é mais gratificante do que centenas de gargalhadas. Você termina o chopp e continua falando, e coloca o copo de lado. Acho que esse é um sinal de que nossa conversa já está no fim. Pedimos a conta ao mesmo tempo para o garçom, e rimos. Depois de pagar, saímos à rua gelada, e você me dá a mão. E gruda ombro a ombro comigo.
O curioso é que a cada dia alguns detalhes dessa minha imaginação mudam, porém não a tua última frase. Nunca a última frase.

"Que acha de irmos lá pra casa tomar um bom vinho? Faz bem nesse frio."

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