quarta-feira, junho 30, 2010

Esperança...


Ele anda no meio da rua, apenas esperando. Um vento suave lhe percorre os cabelos já longos, por preguiça de cortá-los. Os olhos, fechados. A vida não lhe importava mais, nem seu terno branco, cuidadosamente engomado e alvejado. Mãos nos bolsos, apesar de não estar exatamente com frio ou por guardar algo neles, pois não o fazia. Não levava qualquer objeto com ele, a não ser o terno. Tinha mãos nos bolsos apenas pela inutilidade do estar. Estar, pois não era, estava. Não existia mais, ninguém mais se importava com sua presença, ou falta de presença. Apenas poucos utopistas ainda acreditavam nele. Mas já não contava mais a verdade. Não valia a pena detalhar quando ninguém mais o ouvia. Estava solitário, pois todos seus amigos haviam morrido, ou então passaram para o outro lado. Sua guerra era solitária, e sua trincheira era um buraco, o buraco em que se encontrava nesse momento. O fundo do poço. Um sorriso bobo lhe cortava a face, causando-lhe extrema dor ao ver as pessoas ao seu redor caçoando dele. Mas sorria, fingindo. Andava com o nariz empinado, realmente e inutilmente esperando. Esperando pela chuva, a limpar toda a maldade do mundo, que tudo pudesse ser verde de novo, ou que simplesmente, pudesse conviver com os seres humanos de novo. Ou isso, ou a morte certa, definida pelo tempo, já longo demais. Era um jovem resplandescente, o sorriso no rosto não era nem bobo nem cortante. Era um sorriso sincero, terminando em uma bochecha corada envolta por uma face límpida, seguindo-se olhos safira cristalinos, que frequentemente viam cachos dourados passando pela sua frente, quando ele corria. Corria despreocupado, sabendo que todos ainda acreditavam. Acreditavam em suas palavras simples e belas, e saía por aí espalhando sorrisos pelos rostos rabugentos e amargurados. Agora já estava cansado. Não olhava mais para os outros. Não queria ver os rostos felizes, mas mesmo se estivesse com os olhos abertos, não conseguiria. Era tudo desolação, era tudo tristeza. Mas o que ele não percebia, é que ele próprio estava causando toda essa depressão. O mundo estava quebrado por causa dele. Afinal, ele queria o suicídio, estava esperando mesmo era um baque, algo que tirasse sua respiração e que cessasse seus pulsos. Algo em sua direção, a alta velocidade. Ele para. Abre os braços. O terno balança ao vento. O mundo estava desenganado, pois mesmo o último que morre, a ESPERANÇA, já não vive mais.

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